JORGE MACIEL
Nilson Rachid foi um dos homens mais autênticos que conheci. Lá pelos anos 2005, no surgimento do Futebolpress, eu andava arisco pelos estádios – com o Gilmar Ramos, que trabalhou comigo nessa época de início – pegando aqui e ali informações sobre os clubes. Era o tempo do Vila Aurora, do Juventude, Primavera e Grêmio de Jaciara, clubes os quais estavam para o Rachid como as aves e pássaros para o céu.
Aquele vozeirão com o grave padrão me assustava. Como eu vinha de redações de jornais (Folha do Estado, A Gazeta, revista RDM, Diário de Cuiabá etc …) não estava acostumado às lides futebolísticas, aos bastidores. Nisso Rachid me ensinou muito. Foi meu tutor nessa época. Fui apresentado a ele por Ariadna Cardozo (e essa era uma referência de bom trabalho na FMF), nos tempos do Verdão, o José Fragelli.
Logo, de chofre, me espantei com o Rachid, na Rádio Club, geralmente inquieto, estressado. Era direto e uma vez ou outra observava: “Maciel, esse árbitro é um filho da puta …”, mas tudo em off.
Conhecedor como poucos do nosso futebol e seus tremores, Nilson era de uma espontaneidade franciscana. Era admirável e singular. E também eram muito poucas as palavras que de si mereciam alguma metragem. Instintivo, apontava equívocos das gestões dos clubes ao tempo de mostrar o que considerava erros de direção de cartolas e dirigentes. Mas era moldado por um elogio aqui outro alí, justo e coerente. “Maciel, não devo nada pr’esses caras. É uma pouca vergonha !”, ponderava frequentemente.
Falar dos luxuosos predicados de Nilson Rachid e seu fecundo conhecimento das quatro linhas é pleonasmo. De visão apurada, de temperamento agudo, lustrava lances com rara sapiência e riqueza de vocabulário. Era irônico, bem-humorado, e tinha na candura e firmeza a simbiose entre a boa informação e às vezes a polidez. Jamais espancou a língua portuguesa. Nunca o vi ou escutei tratando mal o vernáculo.
Nos últimos tempos, me disse: Maciel, às vezes “Maciça”, quero que você tome conta do meu site (o Interativa Bola na Rede). Terminei postando notícias por muitos dias, mas a plataforma era complicada, precisava de ajustes e mudanças. Parei um pouco e tomei uma bronca: “Pô, cara, as coisas estão acontecendo e você não se dá conta?”. Quase o mando à merda ! Mas decidi preservá-lo.
Maurício, que tratava com ele lá em Rondonópolis do seu site, o convenceu que eu tinha razão. Aí ele me ligou e eu disse que não havia nada a perdoar. Aprendera a conhecer o Rachid. Amigo dos amigos, educado, gentil, prestativo. E justo! Voltamos à paz e retomei o trabalho em parceria (em que não se falava em pró-labore, salário e nem dinheiro).
Recebi com muita tristeza e abalo a notícia da sua ausência. Mas não sou afeito a manifestações fúnebres. Prefiro ter o Rachid como era em vida. Vou me lembrar do sorriso farto quando lhe era a ocasião e quando sabia a quem oferecer. Lá no alto, prefiro pensar assim, Rachid terá, se os santos forem colegas, amigos e parceiros de fato, muita gente para saborear uma ‘bicudinha’, antes mesmo do início de uma nova jornada.
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar (Milton Nascimento)“