Cuiabá , MT - -
Um fato curioso foi que nesse mesmo dia em Cuiabá o antigo Estádio Governador José Fragelli, apelidado de “Verdão”, começou a ser demolido
Neste dia 30/04 completam-se 10 anos do falecimento do ex-Governador José Manoel Fontanillas Fragelli. Ele faleceu no município de Aquidauana em Mato Grosso do Sul onde residia, aos 94 anos de idade. Tive a oportunidade de entrevista-lo quatro anos antes para a minha dissertação de mestrado em História, sobre a política de Mato Grosso no período 1945-2002.
Um fato curioso foi que nesse mesmo dia em Cuiabá o antigo Estádio Governador José Fragelli, apelidado de “Verdão”, começou a ser demolido para construção da Arena Pantanal. Após a escolha da Fifa por Cuiabá para ser a sub-sede da Copa do Mundo 2014 do Pantanal o Governo do Estado, por meio da Agecopa, avaliou que era melhor demolir o Estádio antigo para construir um novo adequado às exigências da competição.
O interessante destes dois episódios é que Fragelli morreu duas vezes na mesma data. Seu corpo físico e seu corpo místico se foram no mesmo dia. Isto pode ser compreendido com recurso à obra “Os dois corpos do rei”, de Ernst H. Kantorowicz, que aborda a teologia política medieval. A despeito da distância no tempo ainda podemos observar muitas semelhanças com os processos dessa época.
O Verdão foi o corpo místico de José Fragelli, porque resultou primeiro de uma ampla campanha de mobilização popular em Cuiabá e na região norte do então Mato Grosso uno. Campo Grande era a maior cidade do Estado e seu principal polo econômico, dividindo com a capital a condição de centro político e administrativo também.
E o Governador anterior a José Fragelli, Pedro Pedrossian, optou por construir com seu nome junto ao campus da recém inaugurada Universidade do Estado de Mato Grosso (UEMT). Isto era compreensível pela base política de Pedrossian ser a região sul do antigo Estado, o que ficou evidenciado pela forte vantagem que ele conseguiu em relação ao seu adversário Lúdio Coelho na eleição de 1965 naquela área.
A rivalidade entre Cuiabá e Campo Grande como polos das duas principais regiões já vinha, pelo menos, desde 1932. Este episódio foi mais uma etapa neste sentido, acirrando o regionalismo e levando a questionamentos das razões pelas quais a capital de Mato Grosso não tinha um estádio de porte. Campo Grande, não obstante sua indiscutível importância, era uma cidade interiorana.
A pressão pela construção do estádio era, portanto, muito forte em Cuiabá quando Fragelli assumiu em 15/03/1971. O Estádio Governador Pedro Pedrossian foi apelidado de Morenão por conta da alcunha de Cidade Morena dada a Campo Grande e inaugurado na última semana do mandato de Pedrossian.
Fragelli acabou cedendo à grande mobilização popular feita naquele período, muito bem representada em seu entorno por sua esposa Dona Maria de Lourdes e os secretários Aecim Tocantins e Mauro Cid. Vendeu áreas no município de Aripuanã para financiar e começou a construção ainda em 1972. Inaugurou a obra ainda inacabada em 1975, pouco tempo antes de deixar o Governo do Estado. A inauguração definitiva aconteceu em 08/04/1976, já no Governo José Garcia Neto (1975-1978) e contou com a presença do então Presidente Ernesto Geisel e do próprio Fragelli. Mesmo com a sua relutância, o estádio acabou ganhando seu nome.
Portanto, esses dois estádios viraram “corpos místicos” desses dois políticos mato-grossenses que marcaram época com seus respectivos governos e tinham estilos opostos. Pedrossian com um perfil mais popular e carismático, representava a modernização política experimentada por Mato Grosso e pelo Brasil ao longo do século XX. Já José Fragelli representava o lado oposto, mais assentado nas tradições e nas estruturas burocráticas, como partidos, governo e famílias. É uma disputa pela dominação simbólica que continua ainda nos dias de hoje por meio do legado destes dois políticos corporificados nestas duas obras.
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