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Cuiabá , MT - -

Uma escolinha de futebol (do Mosca) que não se preocupa só em formar craques da bola



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 Depois de 19 anos de uma bem sucedida carreira no futebol profissional, com brilhante passagem por grandes clubes – Paulista (Jundiaí), Ponte Preta (Campinas), Vila Nova (Goiânia), Coríntians (São Paulo), Figueirense (Florianópolis) e Operário (Várzea Grande) -- onde parou de jogar em 1986, com a conquista do título estadual, Carlos Henrique Pedroso, o Mosca, hoje com 65 anos de idade, vem se dedicando nos últimos quatro anos à formação de meninos e adolescentes do Jardim Primavera, usando a bola como o principal atrativo para afastá-los dos caminhos do mal.

-- Nosso objetivo não é revelar jogadores de futebol, mas, sim, formar homens íntegros, com todas as condições para vencer na vida, trilhando os caminhos do bem, com as bênçãos de Deus – afirma Mosca que tem em sua escolinha que funciona no Centro Comunitário do Jardim Primavera um grupo de cerca de 80 crianças e jovens, cujas idades variam entre 9 e 17 anos. Entre o grupo dos mais jovens que frequentam a escolinha as terças e quintas-feiras no período da manhã, três meninas que treinam normalmente no meio dos meninos dentro do mais absoluto respeito aos princípios dos bons costumes

Muito disciplinado quando jogava futebol, Mosca procura transmitir à garotada tudo que aprendeu e cultivou ao longo de sua brilhante carreira. Além de ensinar  fundamentos do futebol, o treinador não cansa de falar sobre o respeito que o jogador tem que ter para com o adversário, o juiz, o público. E não aceita de maneira alguma violação às normas do bom comportamento. Tanto é que uma entrada mais violenta num adversário, mesmo num simples treinamento, é suficiente para o infrator ser punido com o afastamento da atividade.

Xingamentos, palavrões, gestos obscenos – como os que Fabrício fez recentemente para a torcida do Internacional, em Porto Alegre, no jogo contra o Ipiranga -- nem passam pela cabeça da garotada da escolinha do Mosca e cujo nome oficial é Associação Atlética Várzea-grandense. Por causa dessa disciplina que o treinador impõe, as meninas que treinam com os meninos jamais passaram por qualquer tipo de constrangimento. Alguns admitem que fora dali são uns capetinhas, mas enquanto estão na escolinha, não cometem nenhum deslize.

Na escolinha do Mosca ninguém paga para participar de suas atividades, que  incluem um  joguinho de vez em quando, ou é obrigado a ajudar a comprar material esportivo, de treinamento, bolas, etc. Mosca reclama que nesses anos que vem trabalhando com a garotada, nunca apareceu o pai, a mãe, um parente, ou mesmo um professor da escola onde estudam para saber como eles estão se comportando, se estão mostrando virtudes para serem um bom jogador de bola.

“Eu oriento eles aqui. Fora daqui eles são problemas dos seus pais, professores. Se alguém me avisa que vai faltar no treino seguinte, porque precisa estudar para uma prova, não faço a menor restrição. Mas gostaria que seus pai participassem mais de suas vidas aqui...” – queixa-se Mosca.

Com a ajuda de uma filha, Mosca está documentando a Associação Atlética Várzea-grandense para permitir que ela firme parceria com instituições oficiais que ministram cursos profissionalizantes para ensejar aos meninos de 16 anos para cima a oportunidade de se prepararem para ingressar no mercado de trabalho como mão-de-obra especializada e não como menor aprendiz.

-- Se vão ser mecânico, eletricista, pintor de parede ou se vão partir para profissões mais sofisticadas, não vem ao caso, o que interessa é que se preparem para ser um profissional de alto nível. Se algum desses meninos receberem a graça de Deus de ser um bom jogador de bola tanto melhor... – destaca Mosca.

Nas suas preleções, além de orientar seus pupilos sobre fundamentos e regras do futebol, Mosca não se cansa de falar aos garotos a respeito da importância dos estudos para complementação da educação e formação do caráter de cada um. “O conhecimento que acumulamos é um bem de que recebemos de Deus e que ninguém vai nos tirar” – ressalta.    

Sozinho para cuidar da criançada, Mosca afirma que poderia melhorar e até ampliar  o trabalho voluntário que desenvolve no Jardim Primavera se contasse com a colaboração de  profissionais de várias áreas – psicólogo, assistente social, advogado, fisicultor, fisioterapeuta – para proferir palestras no próprio campo do Centro Comunitário do bairro para orientar a garotada sobre tantos problemas sociais que estão provocando a desagregação familiar.

Sempre que tem oportunidade, Mosca leva a meninada para visitar instituições como o Hospital do Câncer e Lar de Idosos. Segundo o treinador é bom os garotos conhecerem a dura realidade dos portadores de câncer e das pessoas que vão parar em asilos no fim da vida, porque não têm famílias ou foram abandonadas por elas. Afirma também que os meninos têm que saber que a vida é muito difícil e precisam se preparar desde cedo para enfrentá-la.    

-- Eu sempre pensei em convidar um ex presidiário, um drogado, para virem aqui no campo conversar com a meninada, falar de suas experiências como pessoas que tiveram problemas com a Justiça. Mas não sei por onde começar. Acho que é muito importante os meninos conhecerem este outro lado da vida para que tenham noção dos riscos a que estão expostos nesses tempos de turbulência que estamos vivendo... – afirma Mosca.  


Data: 2015-04-16 00:00:00