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Cuiabá , MT - -

Ruiter está desiludido com o atual futebol mato-grossense



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Com brilhante passagem pelo Mixto, Operário Várzea-grandense e União, de Rondonópolis, clubes nordestinos e também pelo Mônaco, o Bordeaux e outros times da França, o hoje comentarista esportivo Ruiter Jorge de Carvalho, anda bem desiludido com o futebol mato-grossense. E culpa a Federação Mato-grossense de Futebol pelo atual estágio do futebol estadual pelo fato de a entidade fixar calendários anuais que privilegiam alguns clubes em detrimento dos outros, que não podem nem manter seus plantéis ao final das temporadas oficiais.

Goiano de Jataí, Ruiter veio para Mato Grosso em1960 para jogar pelo Mixto, clube pelo qual conquistou muitos títulos importantes da sua longa carreira. Passou também pelo Operário Varzea-grandense e o União, de Rondonópolis, Campinense, Confiança, Ipiranga e Náutico, além do futebol francês. Ruiter encerrou a carreira no próprio Mixto, em 1980.

Para quem jogou no Dutrinha com mais de sete mil torcedores e no Verdão com público de até 45 mil pessoas, Ruiter sente grande nostalgia quando vai a Arena Pantanal comentar jogos para a televisão e vê o majestoso estádio vazio.

Para ele, o torcedor saudosista pode tirar o cavalinho da chuva porque jamais vai voltar a ver  jogadores do nível técnico de Bife, Rômulo, Adilson. Gonçalves, Pastoril, Fidélis, Pelezinho, Mão-de-Onça, Mosca, Bargas, ele próprio, e tantos outros jogando pelo Dom Bosco, Mixto, Operário...

Olho no Esporte – Como o senhor que participou intensamente da fase de ouro do futebol profissional de Mato Grosso nas décadas de 70 e 80 avalia esse esporte na atualidade no Estado?

Ruiter -- É difícil comparar a fase de ouro do futebol mato-grossense nas décadas de 70 e 80 com a de agora. Naquela época os jogadores, embora profissionais como agora, jogavam com mais amor, com mais dedicação ao clube. Podíamos beijar o distintivo do clube que os torcedores acreditavam ser um sentimento real. Hoje, os jogadores também beijam o distintivo, mas os torcedores sabem que é um ato simbólico, pois o que eles dão mais valor mesmo  são aos altos salários que recebem. Então, a avaliação é feita pela torcida (que é sábia), que antes comparecia aos estádios, hoje não.

Olho no Esporte -- O torcedor saudosista pode alimentar o sonho de times como o Mixto, o Operário Várzea-grandense, o Dom Bosco, voltar a ter em suas fileiras jogadores do nível técnico de Bife, Adilson, Ruiter, Gilson Lira, Mão-de-Onça, Bargas, Rômulo, Pelezinho, Pastoril, Fidélis e tantos outros?

Ruiter -- Os jogadores citados, dos quais tenho a honra de fazer parte, e tantos outros daquela época, foram realmente excepcionais. O torcedor saudosista pode deixar de sonhar em ter nos seus times profissionais daquela categoria.

Olho no Esporte – Na condição de ex craque do passado e atual comentarista esportivo, como o senhor analisa essa carência de jogadores de alto nível nas divisões de base dos clubes mato-grossenses? É falta de visão dos dirigentes no futuro dos seus clubes? Falta de investimentos nas divisões inferiores?

Ruiter -- São pouquíssimos os clubes que investem nas divisões de base em nosso futebol. Demonstra uma visão distorcida dos dirigentes, pois se houvessem mais investimentos nessa categoria, com certeza os clubes seriam beneficiados amplamente.

Olho no Esporte – Qual a diferença entre tocar um time de futebol profissional nas décadas de ouro desse esporte em Mato Grosso e nos últimos anos? Está faltando novos Lourival Fontes, Lino Miranda, Rubens dos Santos, Joaquim de Assis. no Mixto, Dom Bosco e Operário Várzea-grandense?...

Ruiter -- Os dirigentes citados, aos quais acrescento Ranulfo Paes de Barros e Avelino Hugueney de Siqueira (para falar só de alguns) dedicavam-se de corpo e alma aos seus clubes de coração. Era fácil e confiável trabalhar com eles. Hoje, a maioria dos dirigentes é profissional, e alguns aproveitam dos clubes para se projetarem politicamente e profissionalmente. Acabou-se a época de dirigentes e idealistas, portanto, a diferença está entre o céu e a terra.

Olho no Esporte -- Qual seria a reação que do Ruiter que atuou muitas vezes no Dutrinha com os seus sete mil lugares tomados e no velho Verdão com até 45 mil torcedores se entrasse hoje para jogar na Arena Pantanal com o estádio completamente às moscas?

Ruiter -- Eu que já joguei várias vezes no Dutrinha com mais de sete mil espectadores, e no Verdão com mais de 45 mil torcedores, sinto uma tristeza muito grande quando assisto (ou melhor, quando trabalho) jogos com média de público com menos de mil pessoas.

Olho no Esporte – A que o senhor atribui o desaparecimento do público dos estádios de Mato Grosso, mesmo em jogos que já foram grandes clássicos entre Mixto, Dom Bosco, Operário Várzea-grandense e União, que atraiam multidões ao Dutrinha, ao Verdão, ao Luthero Lopes?

Ruiter -- O principal fator é a falta de organização dos nossos dirigentes: há um calendário anual somente para alguns clubes privilegiados. Os outros, como Mixto e União, para citar dois dos mais tradicionais do nosso estado, após a disputa do campeonato estadual em que alguns clubes são desclassificados antes mesmo do encerramento, são obrigados a dispensar todo o elenco. Há uma falta de sintonia entre os clubes e a Entidade Mãe que privilegia uns em detrimento de outros clubes. O público não acredita e por isso não comparece aos jogos.

Olho no Esporte -- Com os seus elevados custos de manutenção, a Arena Pantanal veio para salvar o futebol mato-grossense ou para afundar ainda os já endividados clubes profissionais de Mato Grosso?

Ruiter -- Eu tinha muita esperança que a Arena Pantanal viria para reerguer, para recuperar, para revitalizar o futebol mato-grossense, mas chego à conclusão que estou equivocado. Hoje, a meu ver, o Dutrinha deveria ser remodelado e os jogos voltarem a ser disputados lá, pois o custo operacional do velho estádio é bem mais baixo.

Olho no Esporte  – O  Campeonato Mato-grossense da Segunda Divisão, com a participação de apenas quatro clubes – Operário FC Ltda., Juara, Ação  e Araguaia -- é um sintoma de que o futebol mato-grossense não vai bem ou é simplesmente reflexo da grave crise econômica e financeira que sacode o Brasil na atualidade?

Ruiter -- Se o Campeonato Mato-grossense da Primeira Divisão não vai bem o que poderíamos esperar da segunda divisão? A crise financeira pelas qual estamos passando hoje contribui, mas não é a principal culpada pelo que está acontecendo atualmente em nosso futebol.

 

 

 

 

 

 


Data: 2015-10-11 00:00:00