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Cuiabá , MT - -

"Falta organização", diz juíza sobre proibição de bandeiras e charangas

Juíza alega não poder responsabilizar as pessoas caso haja uma tragédia nos estádios. Organizadas reclamam que falta diálogo com o JET em Mato Grosso



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Nos estádios de futebol os torcedores fazem a festa. Isto é feito no Brasil há décadas, com bandeiras, instrumentos musicais e hinos compostos pelos próprios torcedores. Em Mato Grosso, esses utensílios não podem mais entrar nos estádios. Porque de acordo com o Juizado Especial do Torcedor (JET), Instrumentos musicais e mastros de bandeiras se tornam armas em possíveis confrontos. E para haver torcida organizada as pessoas devem se estruturar como o Estatuto do Torcedor solicita, para que possam ser responsabilizadas em caso de violência. 

A juíza titular do JET, Patrícia Ceni, relata o maior problema que difere Mato Grosso e os principais centros esportivos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, está na desorganização das torcidas.    

- O principal motivo para o juizado impedir a entrada de instrumentos musicais recai sobre o problema, que não temos torcidas organizadas de fato. Se existem não apresentaram os requisitos básicos de acordo com o Estatuto do Torcedor. E esse impedimento já foi orientado à Federação Mato-grossense de Futebol  - explicou Patrícia.

A juíza reitera que a tarefa do JET é preventivo e de orientação. O trabalho passa por não deixar uma catástrofe sem proporções ocorrer, e não precisar "apagar incêndios" depois. De acordo com ela, cada torcida precisa atender as normas e fazer a regularização no juizado.


- Para que haja torcida organizada é preciso que as pessoas se organizem nas formas que o estatuto coloca para que possamos responsabilizá-los. No caso de uma briga entre torcidas usando esses instrumentos eu terei como responsabilizar os envolvidos. Para que haja torcida organizada é necessário que se cumpra algumas determinações legais. Enquanto isso não for feito, não haverá a entrada de instrumentos musicais nos estádios - alertou.

Duas das maiores torcidas do estado de Mato Grosso, a do Mixto e a do Operário, reclamam do impedimento e dizem ter atendido as solicitações feitas pelo JET. 

- O futebol é do povo, e sem a batucada e as bandeiras se torna um incentivo a menos para os torcedores irem aos estádios. No primeiro jogo da final do estadual, fomos junto com a torcida do Cuiabá e conseguimos a liberação com a juíza Patrícia, porém quando chegamos no estádio a Polícia Militar não autorizou a entrada dos instrumentos musicais. Fica esse jogo de empurra da polícia para a juíza e vice-versa. Fizemos todos os passos que eles pediram e não conseguimos entrar no estádio com a charanga - afirmou Damyel Vinicius, presidente da Força Jovem do Operário.

Fábio Ramirez, vice-presidente da Torcida Boca Suja do Mixto, maior organizada de Mato Grosso não concorda com as decisões da juíza e propõe um Termo de Ajuste de Conduta (TAC).

Juíza torcedor, Patrícia Ceni, 2015 (Foto: Olímpio Vasconcelos)Juíza Patrícia Ceni conversa com a Torcida Boca Suja antes da partida entre Mixto e Luverdense, pelo estadual no Dutrinha (Foto: Olímpio Vasconcelos)

- A juíza Patrícia tinha que fazer um curso sobre torcida organizada nos grandes centros do futebol brasileiro. Todas essas regiões já sentaram com os juízes e fizeram um TAC para permitir a entrada nos estádios de charanga e bandeiras, por exemplo. Ela acha que torcedor de futebol é como lidar com criminoso. É difícil conseguir marcar um horário, ela não nos recebe. Não se dispõe ao diálogo. Porque já nos disponibilizamos a identificar com qual instrumento cada pessoa ficaria, mas nem assim fomos liberados - disparou.

Patrícia Ceni se defende citando a forma como era feita essa identificação, que segundo ela não era adequada. Ela ainda negou a indisponibilidade com os torcedores para discutir e ampará-los em qualquer ocasião.

- O que sempre acontecia nas vésperas dos jogos, era que a torcida Boca Suja fazia um pedido ao JET para entrar nos estádios com instrumentos musicais identificando cada torcedor, mas o problema é que eles não tinham a comprovação de quem são essas pessoas, para responsabilizá-las caso aconteça algo. Nós sempre atendemos os torcedores. Eu pessoalmente às vezes não posso recebê-los por motivos profissionais, mas a minha equipe sempre esteve à disposição - afirma.

*Por Olímpio Vasconcelos, estagiário, sob supervisão de Christian Guimarães


Data: 2015-06-13 00:00:00